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Channel: Lusodinos- Dinossauros de Portugal
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DinoParque Lourinhã pronto para abrir em Fevereiro

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O DinoParque Lourinhãé o maior empreendimento turístico com foco na paleontologia em Portugal e um dos maiores da Europa.  Está previsto abrir portas a 9 de Fevereiro de 2018.


Modelo de Lourinhanosaurus antunesi no DinoParque Lourinhã.

Como nasce o projecto de criar um novo museu e parque de dinossauros da Lourinhã?
A vontade de capitalizar a atenção e importância trazida pelos achados de dinossauros, a falta de espaço no Museu da Lourinhã levou às primeiras propostas pela equipa do Museu da Lourinhã em 1997 de um novo museu, na altura com o título “Parque do Saber e do Lazer”. A falta de financiamento dificultou sempre a concretização desse sonho que era partilhado pelo Museu da Lourinhã e pela Câmara Municipal. A ideia e o conceito evoluíram para o Museu do Jurássico, com uma arquitectura arrojada na periferia da Vila da Lourinhã e uma forte vertente museológica e científica de cariz mais público e depois para o Mundo Jurássico, com uma vertente em que misturava o aspecto lúdico e museológico. A falta de financiamento acabou por impedir a concretização.
Em 2011 começam conversações com parceiros alemães que fazem a gestão do DinoPark Münchehagen. Pondera-se uma localização mais periférica e uma participação mais empresarial, com os fósseis originais de dinossauros que continuam como parte integrante do acervo do Museu da Lourinhã. O conceito evolui até ao que é hoje o Parque dos Dinossauros da Lourinhã, inaugurado em Fevereiro de 2018.




Artigo do Ano da Paleontologia Portuguesa

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O blog Lusodinos decidiu eleger, a partir deste ano, os artigos da paleontologia portuguesa que mais se destacaram. O objectivo é seleccionar os artigos de cada ano que se destacam pela sua qualidade, importância, visibilidade, e/ou excelência, sobre um fóssil português ou com autoria de um paleontólogo português ou de uma instituição portuguesa.

Pedimos a oito paleontólogos doutorados, quatro portugueses e outros quatro estrangeiros mas com alguma ligação a Portugal, que indicassem os três artigos que se destacaram em 2017. O resultado foi uma lista de artigos escolhidos por este júri. Destes, o(s) mais votado(s) para o título de artigo do ano 2017 da Paleontologia portuguesa serão anunciado amanhã.



Regulamento "Artigo do Ano da Paleontologia Portuguesa"

  1. Objectivo: seleccionar os artigos de cada ano sobre um fóssil português ou com autoria de um paleontólogo português ou de uma instituição portuguesa, que se destacam pela sua qualidade, importância, visibilidade, e/ou excelência.
  2. Cada jurado selecciona os 3 melhores artigos com o critério do ponto 1. Os jurados não podem votar artigos da sua (co)autoria, mas podem votar em artigos de outros membros do júri.
  3. O júri é composto por: Bruno Pereira, Christophe Hendrickx, Eduardo Puértolas, Emanuel Tschopp, Lígia Castro, Miguel Moreno Azanza, Octávio Mateus e Rogério Rocha
  4. O resultado são os artigos mais votados, podendo haver empates. O resultado é anunciado no blog Lusodinos.
  5. Tendencialmente, um dos autores do artigo mais votado de cada ano, será convidado a integrar o júri do ano seguinte.
  6. Não existe prémio pecuniário.

Paleontóloga Vânia Correia

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A primeira autora de um dos artigo do ano de 2017 é Vânia Correia sendo acompanhada no artigo porJames B.Riding, Paulo Fernandes, Luís V. Duarte e Zélia Pereira.


Vânia Dinora Pereira Fraguito Correia, nascida a 12 de Julho de 1983 em Vila Real, é licenciada em Biologia e mestre em Recursos Geológicos pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) após estudar na Escola Secundária Camilo Castelo Branco em Vila Real. Trabalhou na Associação Geoparque Arouca e Universidade de Pisa. Actualmente é aluna de Doutoramento (3º Ciclo em Ciências do Mar, da Terra e do Ambiente) na Universidade do Algarve, com a bolsa FCT SFRH/BD/93950/2013, desenvolvendo o tema: "Jurassic dinoflagellate cyst biostratigraphy of the Lusitanian Basin, west-central Portugal, and its relevance to the opening of the North Atlantic and petroleum geology".
O seu orientador principal é Prof. Paulo Fernandes (Universidade do Algarve) e os Co-orientadores são Zélia Pereira (LNEG, Laboratório de Palinologia) e James Riding (British Geological Survey).
A Vânia faz a sua investigação no CIMA – Centro de Investigação Marinha e Ambiental, da Universidade do Algarve e no LNEG, S. Mamede de Infesta.

A Vânia e os demais investigadores já mencionados são autores de dois artigos publicados este ano, ambos nomeados para Artigo do Ano.

Correia, V.F., Riding, J.B., Fernandes, P., Duarte, L.V. and Pereira, Z., 2017. The palynology of the lower and middle Toarcian (Lower Jurassic) in the northern Lusitanian Basin, western Portugal. Review of Palaeobotany and Palynology, 237, pp.75-95.

Correia, V.F., Riding, J.B., Duarte, L.V., Fernandes, P. and Pereira, Z., 2017. The palynological response to the Toarcian Oceanic Anoxic Event (Early Jurassic) at Peniche, Lusitanian Basin, western Portugal. Marine Micropaleontology, 137, pp.46-63.

Podemos ainda adiantar que a dissertação de doutoramento está prestes a ser entregue para avaliação e desde já felicitamos a Vânia e os restantes autores.


OM20180108

Palinologia e ovos fósseis empatam no Artigo do Ano 2017 da Paleontologia portuguesa

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O blog Lusodinos elege, a partir deste ano, os Artigos do Ano da Paleontologia Portuguesa que se destacam pela sua qualidade, importância ou excelência, sobre um fóssil português ou com autoria de um paleontólogo português ou de uma instituição portuguesa.
Este anos foram 17 artigos escolhidos pelo júri mas houve empate nos mais votados para o título de artigo do ano 2017 da Paleontologia portuguesa. Os dois artigos empatados foram:

The palynology of the lower and middle Toarcian (Lower Jurassic) in the northern Lusitanian Basin, western Portugal
por
Vânia F. Correia, James B. Riding, Paulo Fernandes, Luís V. Duarte e Zélia Pereira

Publicado na revista  "Review of Palaeobotany and Palynology"


Two new ootaxa from the late Jurassic: The oldest record of crocodylomorph eggs, from the Lourinhã Formation, Portugal
por
João Russo, Octávio Mateus, Marco Marzola, e Ausenda Balbino
Publicado na revista "PLOS ONE"

Ambos os artigos já tinha sido alvo de notícias Lusodinos: Correia et al. Palynology e Russo et al. PlosOne.





A lista de todos os artigos selecionados é a seguinte:

1º Lugar (2 artigos ex aequo)
2º Lugar (3 artigos ex aequo)
Restantes artigos seleccionados:

Moreno-Amat, E., Rubiales, J.M., Morales-Molino, C. and García-Amorena, I., 2017. Incorporating plant fossil data into species distribution models is not straightforward: Pitfalls and possible solutions. Quaternary science reviews, 170, pp.56-68.

Salgado, L., Canudo, J.I., Garrido, A.C., Moreno-Azanza, M., Martínez, L.C., Coria, R.A. and Gasca, J.M., 2017. A new primitive Neornithischian dinosaur from the Jurassic of Patagonia with gut contents. Scientific Reports, 7.

Gowland, S., Taylor, A.M. and Martinius, A.W., Integrated sedimentology and ichnology of Late Jurassic fluvial point bars–facies architecture and colonisation styles (Lourinhã Formation, Lusitanian Basin, western Portugal). Sedimentology.

Gasca, J.M., Moreno-Azanza, M., Bádenas, B., Díaz-Martínez, I., Castanera, D., Canudo, J.I. and Aurell, M., 2017. Integrated overview of the vertebrate fossil record of the Ladruñán anticline (Spain): Evidence of a Barremian alluvial-lacustrine system in NE Iberia frequented by dinosaurs. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 472, pp.192-202.

Mateus, O., Marzola, M., Schulp, A. S., Jacobs, L. L., Polcyn, M. J., Pervov, V., Gonçalves, A. O. and Morais, M. L. 2017. Angolan ichnosite in a diamond mine shows the presence of a large terrestrial mammaliamorph, a crocodylomorph, and sauropod dinosaurs in the Early Cretaceous of Africa. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology 471 (Supplement C): 220–232.

Colmenar, J., Pereira, S., Sá, A.A., da Silva, C.M. and Young, T.P., 2017. The highest-latitude Foliomena Fauna (Upper Ordovician, Portugal) and its palaeogeographical and palaeoecological significance. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 485, pp.774-783.

Malafaia, E., Escaso, F., Mocho, P., Serrano-Martínez, A., Torices, A., Cachão, M. and Ortega, F. 2017. Analysis of diversity, stratigraphic and geographical distribution of isolated theropod teeth from the Upper Jurassic of the Lusitanian Basin, Portugal. Journal of Iberian Geology 43 (2): 257–291.

Pérez-García, A., Brandão, J.M., Callapez, P.M., Machado, L., Malafaia, E., Ortega, F. and Santos, V.F., 2017. The oldest turtle from Portugal corresponding to the only pre-Kimmeridgian plesiochelyid (basal Eucryptodira) recognized at the generic level. Historical Biology, pp.1-9.

Miguez‐Salas, O., Rodríguez‐Tovar, F.J. and Duarte, L.V., 2017. Selective incidence of the toarcian oceanic anoxic event on macroinvertebrate marine communities: a case from the Lusitanian basin, Portugal. Lethaia.

Else Marie Friis, Mário Miguel Mendes & Kaj Raunsgaard Pedersen, 2017, Paisia, an Early Cretaceous eudicot angiosperm flower with pantoporate pollen from Portugal. Grana, ISSN: 0017-3134 (Print) 1651-2049

Mendes, M.M., Barrón, E., Batten, D.J. and Pais, J., 2017. A new species of the spore genus Costatoperforosporites from Early Cretaceous deposits in Portugal and its taxonomic and palaeoenvironmental significance. Grana, pp.1-9.

Correia, V.F., Riding, J.B., Duarte, L.V., Fernandes, P. and Pereira, Z., 2017. The palynological response to the Toarcian Oceanic Anoxic Event (Early Jurassic) at Peniche, Lusitanian Basin, western Portugal. Marine Micropaleontology, 137, pp.46-63.













Paleontólogo João Russo

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O primeiro autor de um dos artigos do ano de 2017 é João Russo.

João Paulo Vasconcelos Mendes Russo, nasceu em Lisboa em 2 de Fevereiro de 1986. Fez a licenciatura em Geologia na Universidade de Lisboa (2010) e Mestrado em Paleontologia na Universidade Nova de Lisboa em associação com a Universidade de Évora com a tese dedicada a “Eggs and eggshells of Crocodylomorpha of the Late Jurassic of Portugal”, defendida com 19 valores.
João Russo. Foto por O.Mateus
Desde 2010 que é voluntário no Museu da Lourinhã desde a preparação laboratorial a montagem de exposições. Ao mesmo tempo, desenvolveu trabalhos de digitalização 3D, que culminou com trabalho em espécimes do Sauriermuseum Aathal em Fevereiro de 2012 e a presença na conferência Digital Fossil em Setembro do mesmo ano realizada em Berlim, como co-autor de uma comunicação. Participou no congresso Strati como voluntário do pessoal de apoio e como bolseiro no Projecto DinoEggs. Participou em escavações e expedições no Wyoming, Marrocos, Algarve e Lourinhã.

Actualmente está a começar o doutoramento na Universidade Nova de Lisboa com o título “Evolution of nodosaurid dinosaurs and description of a new skeleton from the Late Jurassic of Portugal” sob a orientação de Octávio Mateus.
Segundo o Google Scholar João Russo tem 41 citações e um índice h de 3. Ele tem sido alvo de algumas notícias no blog Lusodinos e pode também seguir no Research Gate.

Publicações:
Marzola, M., J Russo, O Mateus (2015) Identification and comparison of modern and fossil crocodilian eggs and eggshell structures. Historical Biology 27 (1), 115-133.
Russo, J. O Mateus, M Marzola, A Balbino (2014). Crocodylomorph eggs and eggshells from the Lourinhã Fm. (Upper Jurassic), Portugal. Comunicações Geológicas 101 (Especial I), 563-566
Tschopp, E., J Russo, G Dzemski (2013). Retrodeformation as a test for the validity of phylogenetic characters: an example from diplodocid sauropod vertebrae. Palaeontologia Electronica 1998, 16 1 2013
Santos, OF dos, J Russo, M Mendes, N Pimentel, RP dos Reis. (2010). Modeling of Cretaceous uplift and erosion events in the Lusitanian Basin (Portugal). CM 2010-Abstracts 3

Nova espécie de peixe jurássico de Portugal

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Guimarotaichthys problematicus é o novo género e espécie de peixe fóssil do jurássico de Portugal, nomeadamente do Kimmeridgiano da Mina da Guimarota. Apesar de ser reconhecer que se trata de uma nova espécie de peixe Osteichthyes não-teleósteo, a sua posição filogenética não é bem conhecida, o que justifica o nome problematicus.

Otólitos de Guimarotaichthys problematicus (Schwarzhans, 2018). 

Esta nova espécie é baseada em otólitos que são pequenas concreções de carbonato de cálcio presentes dentro de câmaras no aparelho vestibular do ouvido interno dos peixes e que têm a função de controlar a posição do corpo do animal, ou seja, manter o equilíbrio postural.

Relação filogenética do peixes ósseos e comparação dos seus otólitos (Schwarzhans, 2018)

O artigo é publicado por Werner Schwarzhans de Hamburgo com a afiliação institucional ligada ao Museu de História Natural da Dinamarca. O holótipo, espécime de referência, é SMF PO.91821 presente em Senckenberg Museum (Frankfurt am Main, Alemanha) e desconhecemos quando está previsto o seu retorno a Portugal.

Artigo:
Schwarzhans, W., 2018. A review of Jurassic and Early Cretaceous otoliths and the development of early morphological diversity in otoliths. Neues Jahrbuch für Geologie und Paläontologie-Abhandlungen, 287(1), pp.75-121.http://www.ingentaconnect.com/content/schweiz/njbgeol/2018/00000287/00000001/art00005

Jogos de tabuleiro sobre Paleontologia

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Os jogos de tabuleiros e cartas estão a ganhar grande popularidade. Há para todos os gostos, dificuldades, estratégias e temas. Obviamente o tema da paleontologia, dinossauros e evolução não escapa a esta tendência.

Na área da Paleontologia, Dinossauros e Evolução existem alguns jogos interessante nomeadamente na categoria de Gestão de Mão (Hand Management) em que são jogos com cartões que recompensam os jogadores por jogar cartas em certas sequências ou grupos. A sequência / agrupamento ideal pode variar, dependendo da posição da placa, dos cartões mantidos e dos cartões jogados pelos adversários. Gerindo as suas mão significa obter o máximo valor de cartões disponíveis em determinadas circunstâncias. Os cartões muitas vezes têm múltiplos usos no jogo, ofuscando ainda mais uma sequência "óptima".
Alguns dos jogos de tabuleiros e cartas sobre paleontologia

Segundo a Wikipédia, as principais categorias dos jogos e tabuleiro são: jogos de estratégia abstractos, jogo de alinhamento, jogos de leilão, Variantes do xadrez, jogos de configuração, Jogos de conexão, jogos cooperativos, jogos de conta e captura, jogos de cruz e círculo, jogos de dedução, jogo de destreza, Jogos de simulação de economia, jogos educacionais, jogos de eliminação, jogos de fantasia, jogos de adivinhação, e jogos de regra oculta.

Deixamos aqui alguns exemplos de jogos dedicados a paleontologia, dinossauro e evolução:

BONE WARS: The Game of Ruthless Paleontology (2005)
The Great Dinosaur Rush (2016)
Dominant Species (2010), tabuleiro com peças
Dominant Species: The Card Game (2012)
Evolution: The Origin of Species (2010)
Terra Evolution (2011). Este tem o mais alto “overall ranking” 13,260 no site da especialidade boardgamegeek.com.
Evo (2011)
Dinosaur Island (2017)
DinoGenics (2018)
Evolution (2014)
Go Extinct! (2014)
Trias (2002)
Bios Megafauna (2nd edition) (2017) Este é o que tem melhores ratings médios (8.4) no site especializado.
Primordial Soup (1997)
A.D.A.P.T. (2016)
Raptor (2015)

Resumindo, o mundo dos jogos está pujante e abrange também a paleontologia e os dinossauros, por vezes usado mesmo para fins académicos. Obrigado ao Miguel Moreno Azanza e ao Marco Marzola pelas sugestões.



Abriu o Dinoparque Lourinhã

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Abriu ao público hoje, dia 9 de Fevereiro de 2018 o Dinoparque Lourinhã, que teve a inauguração formal ontem. É por isso um dia histórico para a paleontologia de Portugal.



Dinoparque Lourinhã. Entrada



Um dos modelos a caminho do Dinoparque.


Aspecto da sala de paleontologia no Dinoparque.

Inauguração



Afonso, o primeiro visitante oficial do Dinoparque, com o seu pai.

Equipa envolvida no Dinoparque.

Equipa do Museu da Lourinhã


O Museu da Lourinhã mudou e agora conta a história do Atlântico

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O Jornal Público divulgou a nova exposição do Museu da Lourinhã, num excelente trabalho jornalístico por Teresa Serafim e Nuno Ferreira Santos, que aqui replicamos:

O Museu da Lourinhã mudou e agora conta a história do Atlântico


Tem novas peças para mostrar ao público desde o início de Fevereiro, todas contribuem para percebermos melhor como aconteceu a abertura do Atlântico.

TERESA SERAFIM
9 de Fevereiro de 2018, 7:45





Octávio Mateus com os ovos de dinossauro encontrados em 1987

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Octávio Mateus com os ovos de dinossauro encontrados em 1987 NUNO FERREIRA SANTOS
Bem-vindos ao Dino Parque: aqui estão os dinossauros que já viveram em Portugal
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Testemunho da extinção dos dinossauros
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O sítio é o mesmo. Não há como confundir o Museu da Lourinhã mesmo no centro da vila. Afinal, era lá que estavam muitos fósseis de dinossauros da Lourinhã. Mas as aparências iludem e há uma nova história a ser contada. Com a abertura do Dino Parque – Parque dos Dinossauros da Lourinhã, muitos dos fósseis “migraram” para lá. Portanto, no museu na vila o percurso é outro desde 3 de Fevereiro: conta agora como aconteceu a abertura do Atlântico. Há também fósseis e réplicas que vamos poder observar pela primeira vez no museu.
Este edifício não foi construído para ser um museu. Em tempos, foi um tribunal. Como ficou livre, um grupo de amadores que fazia espeleologia, entre os quais o paleontólogo amador Horácio Mateus, ocupou-o. Acabou por abrir em 1984 pelas mãos da associação Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã. Ao todo, tem três colecções: a de paleontologia, arqueologia e a de etnografia. Por ano, tem cerca de 25 mil visitantes.





Agora houve mudanças e o museu tem outra narrativa. “O que é que temos para mostrar que não sejam os dinossauros da Lourinhã? Pensámos na abertura do Atlântico. Toda a investigação que fazemos pelo mundo fora tem uma história transversal: a abertura do Atlântico. Até os próprios dinossauros da Lourinhã estão relacionados com isso”, conta-nos o paleontólogo Octávio Mateus sobre a escolha da nova história. É ele quem nos vai guiar por uma viagem com milhões de anos. É a nova viagem do museu.
Antes da história propriamente dita, são mencionadas (e explicadas) na exposição duas teorias: a da tectónica de placas e a teoria darwiniana da evolução das espécies. Vamos precisar delas para perceber melhor a abertura do Atlântico. Iniciemos então a viagem e comecemos no Triásico, período geológico entre há 250 e 200 milhões de anos. “O Atlântico começou a abrir-se durante o Triásico na nossa costa portuguesa até à Gronelândia”, relata Octávio Mateus. O supercontinente Pangeia começou a rasgar-se e a criar bacias sedimentares. É nestas bacias que vamos encontrar fósseis. Aliás, foi no Triásico que surgiram os dinossauros.
Nas expedições científicas na Gronelândia e no Algarve, lideradas por Octávio Mateus, descobriram-se alguns desses fósseis. Alguns podem ser vistos pela primeira vez no museu. Há o fóssil de uma mandíbula do Metoposaurus algarvensis (um anfíbio gigante que podia atingir os dois metros e faz lembrar uma salamandra), que foi encontrada no Algarve. Há ainda o crânio original de um prossaurópode, um antepassado dos dinossauros saurópodes, assim como ossos de um fitossauro, ambos da Gronelândia.
Passemos para o Jurássico, entre há 200 milhões e 145 milhões de anos. “No Jurássico Inferior e Médio era notório que em Portugal tínhamos um mar profundo. Basicamente, todos os sedimentos que temos do Jurássico Inferior e Médio eram marinhos”, continua a explicar. Portanto, na exposição temos ictiossauros e plesiossauros.





Mas o paleontólogo guarda o melhor para o Jurássico Superior, quando o Atlântico ainda não era um oceano, havia uma série de ilhas e o que é agora Portugal e a Terra Nova já se separavam. No museu já estiveram expostos os ovos de Lourinhanosaurus antunesi encontrados na praia de Paimogo em 1993, cuja descoberta foi revelada ao mundo em 1997 e fez sensação. Agora está exposto pela primeira vez um outro bloco de ovos de Lourinhanosaurus antunesi encontrados nas arribas da praia da Peralta, também na Lourinhã, em 1987. “Temos mais de uma centena deles”, diz com entusiasmo o paleontólogo. “Estes estão mais bem preservados [do que os anunciados em 1997].” Nestes ovos não há embriões.
No Cretácico há mais surpresas trazidas pelo projecto Paleoangola, em Octávio Mateus participa. Mas, antes, o paleontólogo adianta que neste período (entre há 145 milhões e 65 milhões de anos) houve dois grandes eventos: passou a haver um fundo oceânico, ou seja, nasceu o oceano Atlântico; e a abertura do Atlântico Sul, com a separação entre a América do Norte, a América do Sul e África. Depois, lá nos mostra peças de Angola expostas pela primeira vez no museu: há uma réplica de um crânio do mosassauro Angolasaurus bocagei, um grande predador marinho contemporâneo dos dinossauros; uma amonite; e vértebras e costelas do plesiossauro Cardiocorax.




Por fim (nesta história), há 65 milhões de anos (no Cretácico) deu-se a extinção de grande parte dos dinossauros. E o museu tem agora uma secção de estratos de transição desde o Cretácico até ao Paleogénico (entre há 65 milhões e 23 milhões de anos). “Temos aqui uma rocha que testemunha a extinção dos dinossauros. Esta também é a primeira vez que a expomos.” A peça geológica é de Stevns Klint, na Dinamarca, e foi oferecida ao museu por um coleccionador dinamarquês. Esse foi um dos locais em que o geólogo Walter Alvarez encontrou irídio (elemento químico presente nos meteoritos) e assim pôde apoiar a sua hipótese de que os dinossauros se tinham extinguido devido à queda de um meteorito no Iucatão, no Golfo do México. Há ainda outra hipótese que diz que a extinção dos dinossauros foi causada pela erupção de um megavulcão no Decão (Índia). “Independentemente da causa, esta rocha testemunha esse momento”, salienta Octávio Mateus.
Por enquanto, termina aqui esta viagem, mas já há planos para que continue em breve: haverá ainda a história de outros tempos mais recentes. O trabalho de investigação no museu também continua. Numa sala onde estão estudantes, vê-se um placard com vários artigos científicos de 2017, como o dos ovos de crocodilos mais antigos do mundo. Outra das actividades do museu é o voluntariado. Micael Martinho, de 21 anos, é um dos voluntários e trabalha atentamente no Laboratório de Paleontologia do museu repleto de fósseis. Frequenta o 12.º ano e também ele, um dia, quer ser paleontólogo. Nos últimos tempos, até já descobriu um fóssil e contribuiu para este extenso património de dinossauros
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Os vertebrados fósseis do Algarve triásico

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Novo estudo sobre os vertebrados triásicos do Algarve dá duas novas revelações: 1) apresentam-se os primeiros fósseis de placodontes em Portugal e 2) quase todo o Grés de Silves é de idade Carniana (227 a 237 Ma).
A investigação resulta das campanhas de campo da Universidade Nova de Lisboa e dos trabalhos de Mestrado em Paleontologia de Hugo Campos sobre os vertebrados do Triásico algarvio, com apoio da Câmara Municipal de Loulé. O texto foi publicado no livro Loulé: Territórios. Memórias. Identidades lançado a semana passada.

Referência:
Mateus, O., & Campos H. (2018).  Loulé há mais de 220 Milhões de anos: os vertebrados fósseis do Algarve triásico. Loulé: Territórios. Memórias. Identidades. 378-385.: Museu Nacional de Arqueologia | Imprensa Nacional PDF

E aqui replica-se o texto integral do artigo:


Loulé há mais de 220 Milhões de anos: os vertebrados fósseis do Algarve triásico

Octávio Mateus e Hugo Campos
  1. OS TESOUROS ESCONDIDOS NO GRÉS DE SILVES

O famoso Grés de Silves é um tipo peculiar de arenito e argilito avermelhados com o qual o Castelo de Silves e muitas outras construções históricas do barrocal algarvio foram construídas. O termo Grés provém do francês grès, um sinónimo de arenito, uma rocha sedimentar composta por areia consolidada, compactada e naturalmente cimentada. Este arenito é mais resistente que os arenitos Miocénicos amarelados típicos das arribas figuradas em todos os postais turísticos do Algarve, e mais fácil de escavar e construir do que os xistos das serras do Caldeirão e Espinhaço de Cão. O Grés de Silves foi por isso o material de eleição do Castelo de Silves construído ao longo de vários séculos.
O termo Grés de Silves é criado em 1887 pelo geólogo suíço Paul Choffat para uma formação geológica do Triásico de Portugal, composta sobretudo por estes argilitos e arenitos avermelhados. Pela sua composição de fósseis e posição relativa a outras camadas, desde cedo se propôs que o Grés de Silves seria de idade triásica. São os fósseis recolhidos neste Grés de Silves que são alvo deste texto.

1.1 Triásico

O Triásico é um período da história da Terra que começou há cerca de 252 milhões de anos e terminou há 201. Este é o primeiro período da Era Mesozóica, conhecida por ser aquela durante a qual os dinossauros surgiram e se espalharam pelo globo, seguindo o período Pérmico e sendo seguido pelo Jurássico.
Foi no período Triásico que vários grupos de animais vertebrados bem-sucedidos surgiram e se diversificaram, alguns deles sobrevivendo até aos dias actuais. Entre eles estavam não só os dinossauros, como pterossauros (répteis voadores aparentados com os dinossauros), ictiossauros (répteis marinhos com corpos semelhantes aos dos golfinhos), lepidossauros (grupo que inclui cobras, lagartos e anfisbenas), tartarugas, os antepassados dos crocodilos e mamíferos.
A Terra era muito diferente do que é actualmente. Os continentes estavam juntos num único supercontinente chamado Pangeia rodeado pelo grande oceano Pantalassa. O clima global era quente e árido sobretudo na parte central desta massa continental. Estas condições favoreceram a oxidação de ferro que dá a cor avermelhada típica do Grés de Silves.
O Triásico começa aos 252 M.a. após a maior extinção em massa da história da Terra, que marcou o final da Era Paleozóica, e termina com outro grande evento de extinção na passagem para o período Jurássico, aos 201 M.a.. Esta extinção teve um grande impacto na vida marinha e continental, extinguindo vários grupos de organismos, alguns dos quais subsistiam desde o Paleozóico.
Em Portugal, os únicos fósseis de vertebrados que se conhecem deste período foram achados nos concelhos de Loulé e de Silves.

1.2 Os primeiros passos na história da paleontologia no Algarve
A história da paleontologia do Algarve data desde os trabalhos do naturalista Charles Bonnet (1816-1867), fundador da Comissão Geológica e que viveu em Loulé. Em 1846 e 1847, Bonnet percorre o Algarve, procedendo a numerosas observações de caráter topográfico, geográfico e geológico e recolhendo fósseis e amostras de minerais. Bonnet refere a existência de amonites e belemnites na Serra de Alfeição, Nexe, perto de Loulé, e conchas miocénicas em Lagos, Vila Nova de Portimão, Ferragudo, Mexilhoeirinha e Albufeira. Cita ainda a existência de fósseis “Cardium edule” e Mytilus em Albufeira e entre Lagos e Porto de Mós (Bonnet, 1850: p. 142).
O primeiro trabalho de fundo sobre a paleontologia do Algarve chega de Jorge Cotter (1845-1919) que em 1877 estudou a fauna miocénica.
O primeiro trabalho de paleontologia de vertebrados do Algarve vem pelo punho de um dos grandes nomes da geologia portuguesa, o geólogo suíço Paul Choffat, que numa memória de 1885 relatou a ocorrência de alguns géneros de peixes e uma tartaruga fóssil da Mexilhoeira e parte do rostro de um Machimosaurus hugii de Malhão, uma espécie de crocodilomorfo marinho de grandes dimensões que viveu durante o Jurássico (Choffat, 1885). Choffat também trata a geologia do Grés de Silves.
A partir dos anos 60, Miguel Telles Antunes descreve uma série de fósseis miocénicos, como dentes de Tomistoma cf. lusitanica (género do falso gavial) de Cerro das Mós, Lagos, em 1961; em 1979, vários vertebrados, incluindo um sirénio (possivelmente um dugongo) e baleias de Olhos de Água; em 1981, peixes e mais dentes de Tomistoma cf. lusitanica na Praia Grande (Albufeira); e em 1986, descreveu vários mamíferos plistocénicos de Goldra (Loulé), Algoz (Silves) e Morgadinho (Tavira), entre os quais se incluem um javali, um equídeo, um hipopótamo, cervos, lagomorfos (grupo das lebres e coelhos), soricídeos (grupo dos musaranhos), talpídeos (grupo das toupeiras) e vários roedores  (Antunes, 1961; Antunes, 1979; Antunes et al., 1986a; Antunes et al., 1986b; Antunes et al., 1986c). Os dentes de tubarões, peixes ósseos e crocodilos do Miocénico (15 a 20 M.a.) das Praias de Sesmarias, Praia Grande e Arrifão indicam águas mais quentes que as actuais.
Ainda em matéria de paleontologia de vertebrados é de destacar a ocorrência de pegadas e raros ossos de dinossauros do Cretácico Inferior de Porto de Mós (Lagos), Praia da Salema e Praia Santa (Santos et al., 2013).

1.3 Estudo dos vertebrados do Triásico do Concelho de Loulé
Desde os trabalhos dos paleontólogos franceses Denise Russell e Donald Russell em 1977, por indicação do paleontólogo Miguel Telles Antunes, e da tese de M. Christian Palain em 1975 que se conhece a existência de material de anfíbios no Triásico do Algarve, sobretudo em São Bartolomeu de Messines, que foi atribuído a anfíbios estegocéfalos, sem nenhuma atribuição a nível genérico ou específico.
Em 1979 e 1980 o alemão Thomas Schröter fez estudos de geologia da Rocha da Pena no centro do Algarve, no concelho de Loulé, e recolheu alguns ossos que permitiu Florian Witzmann e Thomas Gassner da Universidade de Humboldt de Berlim publicar em 2008 a ocorrência de metopossaurídeos e mastodonssaurídeos, os primeiros em Portugal. As nossas visitas e trabalho de campo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa ocorreram em Dezembro de 2008, Setembro de 2009, Junho de 2010, Junho de 2011, Junho de 2016 e Maio e Junho de 2017.

1.4 As jazidas
A jazida principal de vertebrados do Triásico Superior de Portugal encontra-se perto da aldeia de Penina, no sopé da Rocha da Pena, concelho de Loulé, e no centro geográfico do Algarve. Daí provêm numerosos fósseis numa jazida quase monoespecífica, dominada por Metoposaurus algarvensis. A concentração de ossos é muito elevada, cerca de dois crânios por cada metro quadrado, e já foram identificados pelo menos dez indivíduos distintos, embora se reconheça que o número poderá facilmente ascender a duas dezenas, fazendo desta jazida a única bonebed em Portugal, anglicismo usado para referir uma camada repleta de ossos fósseis. Além do Metoposaurus, ocorrem raros bivalves e escamas de peixe ganóides, e uns metros acima, ossos de fitossauros e placodontes  (figura 1).
Além da jazida da Penina, a mais relevante cientificamente, reportamos ainda a ocorrência de vertebrados fósseis do Triásico em São Bartolomeu de Messines, Vale Vinagre, Berbeleja e Barragem de Fuzeiros.

Figura 1. Aspecto da escavação da jazida da Penina em 2010.


 2. OS VERTEBRADOS DO TRIÁSICO DO ALGARVE

2.1 O Metoposaurus algarvensis

O Metoposaurus algarvensis é um anfíbio do grupo dos temnospôndilos, predadores extintos com aparência semelhante à de uma salamandra, mas com comprimentos que podiam atingir mais de dois metros. Os temnospôndilos, que teriam um estilo de vida semelhante ao dos crocodilos e eram comuns em ambientes aquáticos, surgiram ainda antes do período Triásico, na Era Paleozóica,  e extinguiram-se quase todos no final deste período, excepto um pequeno grupo que conseguiu sobreviver até finalmente desaparecer no Cretácico Inferior, mais de cem milhões de anos mais tarde.
Os fósseis da Penina são claramente do género Metoposaurus,mas distintos dos conhecidos na Polónia, Marrocos, França e Alemanha, o que permitiu erigir uma nova espécie para a ciência, em 2015. Recebeu o nome Metoposaurus algarvensis, encontrada apenas no concelho de Loulé e nomeada em homenagem ao Algarve (figura 2). Esta espécie de crânio achatado vivia em corpos de água como charcos e lagos, os quais eram amiúde severamente afectados por grandes períodos de seca que os reduziam gradualmente, confinando os Metoposaurus que se concentravam e onde acabavam por morrer em massa. Esta situação resultou numa grande e excepcional concentração de ossos, com mais de dez indivíduos, que foi encontrada na Penina.
Sendo anfíbios, os Metoposaurus eram muito dependentes de corpos de água e porventura não teriam uma musculatura devidamente preparada para deambular e procurar alternativas de sobrevivência durante as épocas de seca, o que poderá explicar as concentrações de animais que morreram nas jazidas da Penina mas também da Polónia, Estados Unidos e Marrocos.

Figura 2. Reconstrução artística do anfíbio do Triásico do Algarve, Metoposaurus algarvensis, por Joana Bruno

2.2 O fitossauro

Os fitossauros eram répteis semi-aquáticos, dos maiores predadores do Triásico, e que possivelmente se alimentavam de animais como o Metoposaurus algarvensis. Com crânios e rostros alongados e corpo couraçado, os fitossauros eram fisicamente muito semelhantes a crocodilos e teriam estilos de vida parecidos. No entanto, os fitossauros não são aparentados aos crocodilos, sendo que a diferença mais notável é a posição retraída das narinas: os crocodilos têm as narinas na parte anterior do rostro enquanto que os fitossauros tinham-nas numa posição recuada, quase acima dos olhos, o que lhes permitia respirar com quase todo o corpo submerso (figura 3).
Os fitossauros viveram apenas durante o Triásico, em várias regiões do globo, mas na Península Ibérica o único fóssil de fitossauro que se conhece é uma mandíbula e um conjunto de dentes encontrados no concelho de Loulé, perto da concentração de Metoposaurus. Até à data não se sabe a espécie de fitossauro deste exemplar, mas parece próxima de Nicrosaurus.
O nome fitossauro significa “lagarto planta”, pois inicialmente pensava-se que seriam animais herbívoros, o que rapidamente se provou errado pois seriam carnívoros e piscívoros. O exemplar de Loulé possui inclusivé alguns dentes serrilhados semelhantes aos de dinossauros predadores.
O fóssil foi descoberto durante as escavações em 2010 e publicado na revista científica de paleontologia de vertebrados, Journal of Vertebrate Paleontology (Mateus et al., 2012).

Figura 3. Reconstrução artística de fitossauro do Algarve. Ilustração por Joana Bruno.

2.3 O placodonte

Os placodontes são um grupo de répteis aquáticos extintos, pertencentes ao grupo Sauropterygia, que viveram durante o Triásico. A maioria dos placodontes viviam no mar, em águas pouco profundas, alimentando-se de moluscos que esmagavam com seus grandes dentes planos. Estes animais são tipicamente divididos entre placodontes sem carapaça e com carapaça. Esta era constituída por placas ósseas, ou osteodermes, que lhes dava uma aparência semelhante à das tartarugas mas com as quais não são aparentados, embora seja um caso curioso de evolução convergente. Ao contrário das tartarugas, as carapaças dos placodontes tinham osteodermes muito mais numerosas, na ordem das centenas, de menor tamanho, em múltiplas fiadas (e apenas 3 nas tartarugas), não estando fundidas às costelas.
Nos concelhos de Loulé e de Silves foi recolhido um grande número destas osteodermes. A sua configuração é única, pensando-se que pertençam ao género Henodus devido à forma hexagonal, plana, alongada e sem ornamentação. Além disso, o Henodus não tinha os enormes dentes típicos dos demais placodontes e, de facto, não foram descobertos nenhuns dentes, o que seria de esperar caso se tratasse de outra espécie de placodonte. O Henodus é o único placodonte que vivia em águas salobras, ao invés de viver no mar, e que se alimentava por filtragem de pequenos organismos que se encontram na água e substrato lodoso, tal como fazem os flamingos hoje.

2.4 Implicações para a determinação da idade geológica

A idade geológica do Grés de Silves tem sido debatida desde os tempos de Paul Choffat, assumindo-se uma idade triásica, por contexto geológico e ocorrência de fósseis do Jurássico Inferior estratigraficamente acima.
Os fósseis de vertebrados são porventura os que poderão indicar a idade de forma mais precisa. O género Metoposaurus está restrito ao Carniano e Noriano (237 a 208 M.a.). A transição do Carniano superior e Noriano inferior está aos 227 M.a. Outra ocorrência útil para datação é a do réptil sauropterígio Henodus que tem uma distribuição cronológica restrita ao Carniano inferior, 235 a 228.4 milhões de anos.  Os fósseis de Henodus ocorrem na maioria do Grés de Silves, indicando que a maioria da deposição desta formação é relativamente restrita no tempo e possivelmente Carniana.

3. DO ESTUDO À EXPOSIÇÃO
A equipa de paleontólogos que estudam os vertebrados do Triásico do Algarve é internacional, liderada por um de nós (OM), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL) e colaborador do Museu da Lourinhã, Stephen Brusatte da Universidade de Edinburgh (Reino Unido) que liderou o estudo do Metoposaurus, Richard Butler, da Universidade de Birmingham (Reino Unido), Sebastien Steyer do Museu de História Natural de Paris, Hugo Campos, estudante de Mestrado em Paleontologia da Universidade Nova de Lisboa e em associação com a Universidade de Évora, Miguel Moreno-Azanza da Universidade Nova de Lisboa, e Jessica Whiteside da Universidade de Southampton.
O estudo foram financiados pela National Science Foundation, Fundação Alemã de Investigação, Jurassic Foundation, CNRS, Columbia University Climate Center e Chevron Student Initiative Fund e com grande apoio da Câmara Municipal de Loulé. Apoio adicional foi fornecido pela Câmara Municipal de Silves e Junta de Freguesia de Salir. A escavação decorreu com estudantes de paleontologia da Universidade Nova de Lisboa.
A excelente conservação e articulação dos espécimes, a novidade científica com descrição de uma espécie única, o elevado potencial para a recolha de novos vestígios, a quantidade dos achados, e a sua idade triásica faz desta jazida uma das mais importantes na paleontologia de vertebrados de Portugal. Os estudos paleontológicos prosseguem com a coordenação científica da Universidade Nova de Lisboa e o entusiástico apoio pelo executivo e equipa da Câmara Municipal de Loulé.


Figura 4. Processo de preparação do crânio de Metoposaurus algarvensis (fotografia por Nury Lopez).

Após a preparação laboratorial no Museu da Lourinhã (figura 4) e na FCT-UNL, o Metoposaurus algarvensis e o fitossauro estão em exposição no Museu Nacional de Arqueologia, patente desde o passado dia 21 de Junho de 2017 na galeria poente do Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, como parte da exposição monográfica "Loulé. Territórios, Memórias e Identidades" (figura 5). O ponto de partida da exposição é dedicado ao apontamento "Loulé há mais de 220 milhões de anos" onde se destacam os achados paleontológicos. Acompanhados por ilustrações de Joana Bruno, apresentam-se alguns dos resultados de seis anos de escavações paleontológicas: dois crânios (27 e 45 cm de comprimento, sendo um deles o espécime holótipo, isto é, o exemplar com o qual se estabeleceu uma nova espécie e que recebeu o código FCT-UNL 600) e uma mandíbula (52,5 cm) de Metoposaurus algarvensis e uma mandíbula (45 cm) e dentes de fitossauro.

Figura 5. Núcleo expositivo dedicado aos achados paleontológicos da região de Loulé. Fotografia por Nathaly Rodrigues.


4. BIBLIOGRAFIA
ANTUNES, M. T. (1961) - «Tomistoma lusitanica, Crocodilien du Miocéne du Portugal». Revista da Faculdade de Ciências de Lisboa. 9:5-88.
ANTUNES, M. T. (1979) -«Vertebrados miocénicos de Olhos de Água (Algarve), interesse estratigráfico». Boletim do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Faculdade de Ciências, 16(1): 343-352.
ANTUNES, M. T., JONET, S., & NASCIMENTO, A. (1981) - «Vertébrés (crocodiliens, poissons) du Miocène marin de l'Algarve occidentale». Ciências da Terra, 6:9-38.
ANTUNES, M. T., MEIN, P., NASCIMENTO, A., & PAIS, J. (1986a) - «Le gisement pleistocene de Morgadinho, en Algarve». Ciências da Terra, 8:9-22.
ANTUNES, M. T., MANUPPELLA, G., MEIN, P., & ZBYSZEWSKI, G. (1986b) - «Goldra: premier gisement karstique en Algarve, faune et industries». Ciências da Terra, 8:31-42
ANTUNES, M. T., AZZAROLI, A., FAURA, M., GUERIN, C., & MEIN, P. (1986c) - «Mammiferes pleistocenes de Algoz, en Algarve: une revision». Ciências da Terra, 8:73-86.
BRUSATTE, S.L., BUTLER, R.J., MATEUS, O. & D STEYER, J.S., (2015) - «A new species of Metoposaurus from the Late Triassic of Portugal and comments on the systematics and biogeography of metoposaurid temnospondyls». Journal of Vertebrate Paleontology, 35(3):e912988.
CHOFFAT, P. (1885) - «Recueil de monographies stratigraphiques sur le système crétacique du Portugal». Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal.
DELGADO, J. F. N. (1908) - «Système silurique du Portugal: étude de stratigraphie paléontologique». Serviços Geológicos de Portugal, 1-275.
MATEUS, O., BUTLER, R.J., BRUSATTE, S.L., WHITESIDE, J.H. AND STEYER, J. S. (2014) - «The first phytosaur (Diapsida, Archosauriformes) from the Late Triassic of the Iberian Peninsula». Journal of Vertebrate Paleontology, 34(4):970-975.
PAIS, J., LEGOINHA, P., ELDERFIELD, H., SOUSA, L., & ESTEVENS, M. (2000) - «The Neogene of Algarve (Portugal)». Ciências da Terra, 14:277-288.
SANTOS, V. F., CALLAPEZ, P. M., & RODRIGUES, N. P. (2013) - «Dinosaur footprints from the Lower Cretaceous of the Algarve Basin (Portugal): New data on the ornithopod palaeoecology and palaeobiogeography of the Iberian Peninsula». Cretaceous Research, 40:158-169.
WITZMANN, F. & GASSNER, T. (2008) - «Metoposaurid and mastodonsaurid stereospondyls from the Triassic-Jurassic boundary of Portugal». Alcheringa 32:37–51.




Formação da Lourinhã

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A unidade geológica conhecida como "Formação da Lourinhã" foi objecto de um artigo científico no último volume da revista Ciências da Terra / Earth Sciences Journal, num trabalho de colaboração entre a Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de Coimbra, como base para a saída de campo do congresso Strati em 2013.
 Interpretação paleogeográfica da Bacia Lusitaniana durante o Titoniano inferior (ilustração de Simão Mateus) (Mateus et al., 2017)





Afloramentos de Kimmeridgiano superior do membro de Porto Novo no Vale das Pombas: A, corpo de arenito do canal fluvial dentro da planície de inundação e depósitos de crevasse-splay; B, escavação de dinossauros saurópode; C, detalhe de um canal de arenito com cama cruzada mostrando uma ampla extensão de paleocorrentes


A Formação da Lourinhã é uma formação geológica do Jurássico Superior, Kimmeridgiano a Titoniano (155 a 145 M.a.), localizado no oeste de Portugal, conhecido pela fauna fóssil rica, sobretudo de dinossauros, mas também de tartarugas, crocodilomorfos, mamíferos, lagartos, etc.

A região Oeste é das áreas mais produtivas para os dinossauros e outros vertebrados do Jurássico  Europa, nomeadamente para a Formação da Lourinhã, que é contemporânea com a Formação de Morrison, no centro-oeste da América do Norte.
A fase de rifting Jurássico da Bacia Lusitânica criou várias sub-bacias separados por falhas principais. Na área ocidental e central da bacia, a estrutura de Caldas da Rainha separa três sub-bacias com diferentes características de subsidência e de enchimento: Consolação para a oeste, Bombarral-Alcobaça ao noroeste e Turcifal com a sudeste. A sucessão do Jurássico Superior à base do Cretácico exposta nas arribas costeiras localizadas entre Nazaré e Santa Cruz pertence à Sub-bacia da Consolação, enquanto que os afloramentos costeiros entre Santa Cruz e Ericeira expõe unidades da Sub-bacia do Turcifal.




Fósseis do afloramento Porto Batel (unidade Consolação): A, tartaruga; B, preenchimento de pegada de dinossauro; C. Fuersichella bicornis (Sharpe, 1850) com padrão de cor (ML1804); D, recife com corais  (Mateus et al., 2017).


Para enquadrar as paragens num contexto coerente, dá-se destaque e detalhe às unidades da área visitada. A estratigrafia do Jurássico Superior da bacia é bastante complexa e não existe nenhuma proposta totalmente aceita na generalidade, sendo, por isso, apresentada uma revisão de litostratigrafia, sedimentologia, idade e interpretações ambientais. Interpretações sobre o paleoclima, paleogeografia e tafonomia contribuem para uma descrição geral do ambiente onde os dinossauros viveram e para a compreensão das condições para a sua fossilização e preservação.

Esta descrição das localidades e horizontes desenrola-se de norte para o sul, incidindo sobre os vertebrados, sedimentologia e estratigrafia. A primeira paragem é no Kimmeridgiano superior da Consolação que mostra um paleoambiente marinho pouco profundo a deltaico da Formação de Alcobaça, na qual assenta a Formação da Lourinhã. Mais a sul, o forte de Paimogo permite uma vista panorâmica sobre a Fm. da Lourinhã: para o norte estão os membros Praia da Amoreira - Porto Novo (planície de aluvião costeira inferior, incluindo a parte distal e sistemas fluviais sinuosos; Kimmeridgian superior) e o Membro Praia Azul para o sul (aluvião e planície costeira, com três níveis de carbonato transgressivo e faunas salobra-marinhas distintas; Kimmeridgiano superior e base do Tithonian). Em Paimogo encontra-se os locais onde ovos de dinossauro terópode e um esqueleto saurópode foram recolhidos. A paragem no Museu da Lourinhã permite visitar uma das mais importantes coleções de vertebrados do Jurássico superior na Europa. A última paragem, no Porto da Calada, aborda a parte superior do Membro da Assenta da Formação da Lourinhã (sistema fluvial com meandros e com intercalações de carbonatos de origem lagunar e marinha rasa; do Titoniano superior à base do Berriasiano) e Formação Porto da Calada (sistema fluvial meandrico com os níveis de finos de carbonatos estuarinos e intertidais; do Berriasiano), incluindo assim o limite Jurássico-Cretácico.


Paimogo, nível com primeira transgressão marinha (Mateus et al., 2017)

Sub-bacias sedimentares da Formação da Lourinhã (Mateus et al. 2017, baseado em Taylor et al., 2013).

Localidades de Paimogo e Caniçal com indicação das transgressões marinhas (Mateus et al. 2017)






Referência completa:
Mateus, O., Dinis J., & Cunha P. P. (2017).  Lourinhã Formation: Upper Jurassic to Lowermost Cretaceous of the Lusitanian Basin, Portugal - landscapes where dinosaurs walked. Ciências da Terra / Earth Sciences Journal. 19(1), 75-97.  PDF

Empregabilidade da Paleontologia em Portugal

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A Universidade Nova de Lisboa divulgou os resultados da empregabilidade do Mestrado em Paleontologia que é mantido numa associação entre a Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Universidade de Évora.

O Mestrado em Paleontologia tem empregabilidade de 100%! Todos os 16 mestres em paleontologia, graduados entre 2014 e 2017, estão empregados.

De acordo com inquérito individual direto em fevereiro de 2018: 14 (87,5%) dos mestres responderam a ser empregados em instituições relacionados à paleontologia ou em estudos avançados e apenas dois (12,5%) em outras áreas.

Lista de instituições relacionadas à paleontologia onde se encontram os graduados em paleontologia é a seguinte:

Os dados de emprego dos Mestres em Paleontologia indicam 0% de desemprego.
E ainda segundo o mesmo inquérito o tempo médio até encontrar um cargo foi de 3 meses.
Estes dados corrigem a percepção (errada) de que a paleontologia não dá emprego, porventura devido à falta de estudos sobre empregabilidade nesta área.

Pinguins em Portugal

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A alca-gigante, torda-gigante, arau-gigante ou pinguim Pinguinus impennis era uma ave Alcidae não voadora caçada até à extinção por volta de 1770. Apesar do nome, trata-se de uma ave semelhante à torda-mergulheira (Alca torda) actual, do hemisfério norte e distinta dos pinguins Spheniscidae do hemisfério sul. Contudo, o nome dos pinguins era usado por marinheiros europeus para esta espécie e re-utilizado aquando da sua descoberta das aves semelhantes do hemisfério sul. A tripulação de Francis Drake deu o nome quando viram os Pinguins de Magalhães na terra do Fogo que pensavam ser a alca-gigante (Pengwin).

Em Portugal conhecem-se vestígios desta espécie na Figueira Brava, Porto Santo e Gruta da Forninha, em Peniche (Pimenta et al. 2008, Figueiredo et al., 2018, Mourer-Chauvire e Antunes, 1991, Mourer-Chauvire. 1999).

Saiu agora um artigo sobre as aves plistocénicas da Gruta da Furninha, em Peniche assinado por Silvério Figueiredo que refere a existência desta espécie (Penguin no original) (Figueiredo et al., 2018)



Pinguim (Pinguinus impennis) e ovo em Kelvingrove, Escócia (Foto Mike Pennington CC SA BY)

O local da caverna da Gruta da Furninha é uma cavidade cársica costeira, nas arribas de Peniche, com fósseis do Holoceno incluindo ossos humanos neolíticos; e Pleistoceno tardio, paleolítico.

Referências

  • Figueiredo, S.D., Cunha, P.P., Sousa, F., Pereira, T. and Rosa, M., Pleistocene Birds of Gruta da Furninha (Peniche-Portugal): A Paleontological and Paleoenvironmental Aproach. Journal of Environmental Science and Engineering A 6 (2017) 502-509 doi:10.17265/2162-5298/2017.10.003 
  • C. Mourer-Chauvire and M. T. Antunes. 1991. Presence du grand pingouin, Pinguinus impennis (Aves, Charadriiformes) dans le Pleistocene du Portugal. Geobios 24(2):201-205.
  • C. Mourer-Chauvire. 1999. Influence de l'homme prehistorique sur la repartition de certains oiseaux marins: L'exemple du grand pingouin Pinguinus impennis. 67(4):273-279.
  • Pimenta, C., Figueiredo, S. and Moreno-Garcia, M., 2008. Novo registo de Pinguim (Pinguinus impennis) no Plistocénico de Portugal. Revista Portuguesa de Arqueologia, 11(2), pp.361-370.

Dinossauros mudavam entre corrida e andar de forma mais sauve que os humanos

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Sabemos que a locomoção dos primeiros dinossauros era bípede, caminhando e correndo sobre as patas traseiras. Actualmente há três grupos principais de vertebrados que caminham regularmente sobre as duas patas: humanos, aves e cangurus. Estes últimos saltam e as pegadas indicam que essa não era a forma de locomoção dos dinossauros. Seria a locomoção dos primeiros dinossauros mais parecida a dos humanos ou das aves?
Aprender como os dinossauros de terópodes extintos e não avianos se mexiam é importante porque esta é a linhagem de deu origem às aves. As pegadas fósseis fornecem a evidência mais direta para responder a essas perguntas. No estudo por Phillip J Bishop e colegas (2017) mediram a largura do passo em relação à velocidade nos trilhos de terópodes não avianos do Triásico. Os dados foram comparados com humanos e 11 espécies de aves corredoras.
Os testes de permutação da inclinação mostraram que a largura do passo diminuiu continuamente com o aumento da velocidade nos terópodes extintos e em cinco espécies de aves. Os seres humanos, em contrapartida, diminuem a largura do passo na transição de andamento. Nos bípedes modernos, esses padrões refletem o uso de um repertório locomotor descontínuo, caracterizado por marchas distintas (nos humanos), ou por um repertório locomotor contínuo, com uma transição suave entre correr e andar (nas aves).


Transição entre o andar e a corrida (Bishop et al, 2017) 
Os terópodes não-avianos tinham uma transição contínua e suave entre o andar e o correr. Assim, características que caracterizam a locomoção terrestre aviana começaram a evoluir no início da história dos terópodes.

Este estudo inclui o autor Luis Pardon Lamas, da Faculdade de Medicina Veterinária, em Lisboa.


Bishop, P.J., Clemente, C.J., Weems, R.E., Graham, D.F., Lamas, L.P., Hutchinson, J.R., Rubenson, J., Wilson, R.S., Hocknull, S.A., Barrett, R.S. and Lloyd, D.G., 2017. Using step width to compare locomotor biomechanics between extinct, non-avian theropod dinosaurs and modern obligate bipeds. Journal of The Royal Society Interface, 14(132), p.20170276.
http://rsif.royalsocietypublishing.org/content/14/132/20170276

Os dinossauros saurópodes

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Cabeça de dinossauro saurópode Europasaurus holgeri, por Thomas Laven.


Estes dinossauros evoluíram a partir de dinossauros bípedes do Triásico superior, há mais de 200 milhões de anos, de um ou dois metros de comprimento que vão gradualmente aumentando de dimensão, adaptando-se a uma regime alimentar exclusivamente herbívoro, com um aumento do comprimento do pescoço.
Os dinossauros saurópodes foram os maiores animais que alguma vez caminharam sobre a Terra. Apesar de algumas espécies chegarem a atingir quase 40 metros de comprimentos, e mais de 80 toneladas de peso, nem todos eram assim tão grandes e alguns eram considerados anões, como o Europasaurus, com seis metros de comprimentos. Algumas baleias actuais, como a baleia-azul com 172 toneladas superam os maiores dinossauros em massa corporal.
Algumas estimativas dizem-nos que, para conseguir bombear o sangue até à cabeça, o coração de algum dos maiores dinossauros saurópodes tinha de ter quase meia tonelada. Todos os saurópodes eram quadrúpedes, isto é, caminhavam sobre as quatro patas. Apesar das limitações corporais, é provável que fossem suficientemente ágeis para se levantarem sobre as patas traseiras em situações de perigo ou para se alimentarem de ramos mais altos.
O corpo evoluiu para se adaptar ao grande peso, pelo que as vértebras começaram a ganhar espaços ocos com sacos de ar, ficando mais leves, enquanto que os membros eram compactos e resistentes. Os dedos perderam gradualmente algumas falanges e as patas ficaram mais simples e resistentes.
Os dinossauros saurópodes eram todos herbívoros, mas a sua estratégia de alimentação variava conforme a espécie. Os braquiossauros alimentavam-se da copa das árvores enquanto os diplodocídeos da vegetação rasteira. Os camarassauros cortavam a vegetação com os dentes, enquanto que os titanossauros ripavam-na. Nenhum saurópode conseguir mastigar a vegetação por não ter molares nem nenhuma outra estrutura bocal de mastigação. Em contrapartida, moíam os alimentos com auxílio de seixos que engoliam, os gastrólitos.
Durante o Cretácico os saurópodes entraram em declínio quando confrontado com os hadrossauros, mais adaptados à mastigação, extinguido-se por completo há 66 milhões de anos.
Em Portugal existiam, entre outros, os seguintes dinossauros saurópodes do Jurássico tardio: Lusotitan, Zby, Supersaurus (=Dinheirosaurus) e Lourinhasaurus.


Extinção no K/Pg (Cretácico -Paleogénico)

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Novo estudo aborda a extinção dos vertebrados no K/Pg (Cretácico -Paleogénico) de Espanha, liderado por Eduardo Puértolas-Pascual da Universidade Nova de Lisboa.

Há 66 milhões de anos, um evento alterou o clima, ecossistema e a química das águas e ares a nível global. Muito se debate qual a causa e duas teorias prevalecem: i) intensa actividade vulcânica e ii) impacto de um meteorito. Seja qual for a causa, a consequência foi uma alteração profunda e indelével nos ecossistemas de tal forma que o cortejo de fauna e flora mudou para sempre, numa extinção em massa, deixando para trás o Cretácico (simbolo convencionado: K) e entrando no Paleogénico (Pg). O K/Pg é um momento, uma transição, de duas grandes eras: do Mesozóico para o Cenozóico. Até há poucos anos usava-se o termo Terciário (T), mas foi recentemente substituído por Paleogénico, daí usar-se actualmente K/Pg em vez de K/T.

Um novo estudo liderado por Eduardo Puértolas-Pascual da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, publicado na prestigiada revista Cretaceous Research fornece mais informações sobre a cronoestratigrafia e novos sítios vertebrados do Maastrictiano superior de Huesca (Espanha) e a sua relação com o limite K/Pg.

A Formação de Tremp a sul dos Pirinéus, em Espanha, contêm um dos melhores registros de vertebrados continentais do Cretácico Superior na Europa. Esta área dos Pirenéus é, portanto, um local excepcional para estudar a extinção de vertebrados continentais através do limite K/Pg, sendo um dos poucos lugares na Europa que tem um registro relativamente contínuo que varia desde o Campaniano Superior ao Eoceno inferior. A área de Serraduy tem abundantes restos de vertebrados, destacando-se a presença de dinossauros hadrosaurídeos e crocodilomorfos.

Crocodilomorfos do Cretácico de Tremp: A: dentes de cf. Thoracosaurus. B e C: dentes de Allodaposuchidae. D. vértebra. E: crânio de Agaresuchus subjuniperus. (Puértolas-Pascula et al. (2018)

Cronologia da região estudada por Puértolas-Pascual et al. 2018.


Puértolas-Pascual et al. (2018) apresentam um estudo detalhado estratigráfico, magnetostratigráfico e bioestratigráfico pela primeira vez nesta área, possibilitando a atribuição da maioria dos sites de vertebrados da região de Serraduy, uma idade Maastrichtian terminal. Estes resultados confirmam que os sítios vertebrados de Serraduy estão entre os mais modernos do Cretácico Superior na Europa, sendo muito próximos do limite K / Pg.


 Puértolas-Pascual, E., Arenillas, I., Arz, J.A., Calvín, P., Ezquerro, L., GarcíaVicente, C., Pérez-Pueyo, M., Sánchez-Moreno, E.M., Villalaín, J.J., Canudo, J.I., Chronostratigraphy and new vertebrate sites from the upper Maastrichtian of Huesca (Spain), and their relation with the K/Pg boundary, Cretaceous Research (2018), doi: 10.1016/j.cretres.2018.02.016.

Ver notícia no site do Departamento de Ciências da Terra da FCT NOVA.

Dracopelta, o blog

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Há um novo blog na paleontologia portuguesa: Dracopelta em dracopelta.blogspot.pt
Este blog, mantido por João Russo, da FCT- Universidade Nova de Lisboa, é homónimo do género do anquillossauro Dracopelta zbyszewskii do Jurássico Superior.
Mantido em língua inglesa, este novo blog "abrange todos os aspectos dos anquilossauros basais, polacantinos e nodossaurídeos basais e anquilossaurídeos".




Outros blogues de paleontologia, nacionais e em português:
https://sopasdepedra.blogspot.pt por A. Galopim de Carvalho
http://eraumavezumdinossaurio.blogspot.pt

Não listámos os blogues que não mantém actividade actual. Pedimos que nos indiquem se falar algum blog relevante.

Flora fóssil dos Açores

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Novo artigo sobre a flora fóssil do quaternário do arquipélago dos Açores estuda os fósseis de plantas são conhecidos das Ilhas dos Açores, até à data que se encontravam mal estudados.

Carlos Góis-Marques e colegas (2018) fazem uma uma revisão bibliográfica abrangente para todo o arquipélago dos Açores, publicado agora na Historical Biology.
Uma primeira referência pré-científica data do final do século XV, enquanto a primeira descrição científica é de 1821, representando troncos em unidades piroclásticas e plantas silicificadas em depósitos hidrotérmicos.
Ao longo da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX, a prospecção por naturalistas e o trabalho de mapeamento geológico levaram à descoberta e descrição de fósseis de plantas na maioria das ilhas.
Os fósseis de plantas açorianas incluem folhas, hastes, troncos e sementes preservadas como impressões, compressões, moldes de lava e mumificações. A tafonomia está geralmente relacionada à atividade vulcânica explosiva, enquanto o registo palinológico é associado com sedimentos de lago e turfeiras.

Plantas fósseis dos Açores (Góis-Marques et al. 2018)


Carlos A. Góis-Marques, Lea de Nascimento, Miguel Menezes de Sequeira, José María Fernández-Palacios & José Madeira (2018) The Quaternary plant fossil record from the volcanic Azores Archipelago (Portugal, North Atlantic Ocean): a review, Historical Biology, DOI: 10.1080/08912963.2018.1444761

Faleceu o paleontólogo Jacques Rey

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Faleceu o paleontólogo francês Jacques Rey  que tanto colaborou com Portugal e estudou a estratigrafia e paleontologia portuguesa sobretudo do Cretácico Inferior. O Prof. Rey, de 77 anos, era Prof. Emérito da Universidade de Toulouse, em França. Descreveu várias novas espécies de equinodermes e deu um enorme contributo para a compreensão do Cretácico de Portugal. Em Abril de 2012 foi-lhe atribuído doutoramento Honoris Causa pela Universidade Nova de Lisboa.

Jacques Rey na Praia da Foz em 2012 (foto: OM)
Rey foi autor de numerosos trabalhos, dos quais destacamos:

  • Rey, J. (1972). Recherches géologiques sur le Crétacé inférieur de l'Estramadura (Portugal) (No. 21). Serviços Geológicos de Portugal.
  • Dinis, J. L., Rey, J., Cunha, P. P., Callapez, P., & Dos Reis, R. P. (2008). Stratigraphy and allogenic controls of the western Portugal Cretaceous: an updated synthesis. Cretaceous Research, 29(5-6), 772-780.
  • Ramalho, M. M., & Rey, J. (1981). Réflexions sur la formation crétacée de Porto de Mós (Algarve, Portugal).
  • Rey, J., Dinis, J. L., Callapez, P., & Cunha, P. P. (2006). Da rotura continental à margem passiva. Composição e evolução do Cretácico de Portugal. Lisboa, Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI), 75pp.
  • Manuppella, G., Antunes, M. T., Pais, J., Ramalho, M., & Rey, J. (1996). Carta geológica de Portugal 1/50000. Folha 30-A, Lourinhã. Departamento de Geologico e Mineiro.
  • Rey, J., Bilotte, M., & Peybernes, B. (1977). Analyse biostratigraphique et paléontologique de l'Albien marin d'Estremadura (Portugal). Géobios, 10(3), 369-393.
  • Rey, J. (1986). Micropaleontological assemblages, paleoenvironments and sedimentary evolution of Cretaceous deposits in the Algarve (southern Portugal). Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 55(2-4), 233-246.
  • Rey, J. (1993). Les unités lithostratigraphiques du Grupe de Torres Vedras (Estremadura, Portugal). Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro, 79, 75-85.
  • Dinis, J., Rey, J., & de Graciansky, P. C. (2002). Le Bassin lusitanien (Portugal) à l'Aptien supérieur–Albien: organisation séquentielle, proposition de corrélations, évolution. Comptes Rendus Geoscience, 334(10), 757-764.

A geologia e paleontologia portuguesa muito devem ao Prof. Jacques Rey.

Tyrannosaurus rex 'Trix' nas aulas abertas de Paleontologia de Vertebrados

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Começa esta semana um novo semestre de aulas. Na FCT Nova, recomeça o Mestrado em Paleontologia com aulas de Paleontologia de Vertebrados, entre outras.

Nesse enquadramento, o paleontólogo Anne Schulp (Naturalis, NL) especialista em mosassauros e líder do projecto de estudo do Tyrannosaurus rex 'Trix', vai dar uma aula / palestra na próxima quinta-feira (8 de Março), 14:30, no DCT-FCT NOVA (sala 3.34), Caparica.

A palestra será aberta ao público.

As aulas de Paleontologia de Vertebrados são normalmente restritas mas este ano decidimos abrir ao público geral, gratuitamente. As aulas são habitualmente às quintas e sextas-feiras. Para participar nestas Aulas Abertas de Paleontologia de Vertebrados, terá de se inscrever, enviando um email para omateus+pv@fct.unl.pt demonstrando o seu interesse e informar sobre as suas qualificações.

As aulas serão em inglês e há limites de vagas.
Esperemos vê-lo em breve.

Tyrannosaurus rex Trix, na exposição da CosmoCaixa, Barcelona (OM2018)



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